quinta-feira, 27 de março de 2025

Entre costelas e questões: O Açougue como um altar do efêmero



Cortar carne me ensinou, que a vida se desfaz em camadas — umas moles, outras resistentes,mas todas são passageiras. 



Quando empunho o fio de minha faca...
eu me questino:será que somos mais que um amontoado de músculos à espera do talho de um destino?



No balcão, vendo bifes e ,simultâneamente me questiono,se muitos de nós também apenas repartem a própria existência,em pedaços vendáveis,tão simplesmente assim?



O sangue escorre, limpo e frio. 
Às vezes sinto que ressoo os meus próprios paradoxos,em um balde de vísceras.



Os clientes pedem:sem gordura;
...eu então, sempre me viera uma questão: ...qual parte da sua vida ,você recusaria,se pudesse?





Desossar um frango é como desmontar a fé: ...tudo vira dúvida,e restam ossos que ninguém quer mastigar.





O açougueiro vê a morte de frente, mas é pago para fingir que ela não existe. Cortamos, embalamos, rotulamos. 'Transformamos o trágico',em degustação alheia.



Algumas pessoas compram corações de boi, como metáforas para alguns de seus respectivos simbolismos. 
Nunca percebem, que o delas também está à venda para alguém maior!



Uma afiada faca já não sabe mais o que é piedade. 
E eu,quando a afio,será que ainda sei,ou finjo que lembro?



O cheiro de ferro do sangue me lembra que sou humano. O meu salário no fim do mês, me lembra que sou pago para esquecer qualquer remorso dessa humanidade! 




By Santidarko 

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