Cortar carne me ensinou, que a vida se desfaz em camadas — umas moles, outras resistentes,mas todas são passageiras.
Quando empunho o fio de minha faca...
eu me questino:será que somos mais que um amontoado de músculos à espera do talho de um destino?
No balcão, vendo bifes e ,simultâneamente me questiono,se muitos de nós também apenas repartem a própria existência,em pedaços vendáveis,tão simplesmente assim?
O sangue escorre, limpo e frio.
Às vezes sinto que ressoo os meus próprios paradoxos,em um balde de vísceras.
Os clientes pedem:sem gordura;
...eu então, sempre me viera uma questão: ...qual parte da sua vida ,você recusaria,se pudesse?
Desossar um frango é como desmontar a fé: ...tudo vira dúvida,e restam ossos que ninguém quer mastigar.
O açougueiro vê a morte de frente, mas é pago para fingir que ela não existe. Cortamos, embalamos, rotulamos. 'Transformamos o trágico',em degustação alheia.
Algumas pessoas compram corações de boi, como metáforas para alguns de seus respectivos simbolismos.
Nunca percebem, que o delas também está à venda para alguém maior!
Uma afiada faca já não sabe mais o que é piedade.
E eu,quando a afio,será que ainda sei,ou finjo que lembro?
O cheiro de ferro do sangue me lembra que sou humano. O meu salário no fim do mês, me lembra que sou pago para esquecer qualquer remorso dessa humanidade!
By Santidarko
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