Não foi no gume da lança, frio e claro
— Metal que fende a névoa matinal —
Nem no esplendor do Graal, relicário
De luz que fere os olhos carnais,
Que a Verdade, qual fênix, se ergueu.
Foi na ferida aberta, no suspiro
Que ecoa no abismo do sofrer alheio;
No instante em que o próprio sangue — um rio
Escuro e quente — torna-se espelho
Onde o Outro, afinal, se pode ver.
Ah! Falsos cavaleiros das certezas,
Montados em corcéis de aço e dogma!
Rudes percursos, sim, mas não cabeças
Que entendem o clamor da dor que afoga
A alma gemendo à beira do caminho.
O saber verdadeiro — cristal quebrado
Pela mão que ousa tocar a chaga —
É irmão gêmeo do Amor, desarmado,
Que vê no inimigo a mesma fagulha
Divina, ofuscada pela ira ou pó.
Quem sofre, sabe. E quem sente o sofrer
Que dilacera um peito estranho ao seu,
Esse, sim, bebe o vinho do Saber:
Sangue sagrado, vinho escuro, néctar
Que transforma espectador em Irmão.
A Lança cura? Sim, mas só a mão
Que treme ao ver a Dor, e a recolhe,
E lava a fonte impura da aflição
Com lágrimas que são raízes — oh! —
De uma floresta nova a despontar.
By Santidarko
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