sábado, 5 de julho de 2025

A ferrugem da esperança e de uma aguardada felicidade

(*um poema sobre pequenas distopias que despontam suavemente em nosso dia a dia, mas estamos 'internados dentro de nossos mesmos',devido a dor ou o cansaço existencial--que poucos percebem ás abafadas e cruciais mudanças)


Não ruínas súbitas, nem fúria abrasadora,
Mas lenta ferrugem sobre a alma sonhadora;
Não cadeias de ferro, visíveis ao luar,
Mas um peso de névoa, impossível de erguer.
A Distopia não veio com estrondo ou clarão,
Mas rastejou no vento, num morno soprão,
E encheu de cinza fina a fonte do pensamento,
Sob o sol pálido do nosso lento lamento.

Os engenhos, outrora, promessas de asas,
São gaiolas de vidro, frias varandas,
Onde miramos, parvos, números e luzes,
Enquanto o coração em silêncio escorre cruzes.
O progresso, outrora ímpeto, fera indomada,
É agora engrenagem surda e cansada,
Que gira sem rumo, num vácuo profundo,
Sob o céu sem estrelas deste mundo imundo.

A dor? Não é agulha, nem grito lancinante,
É antes um lago parado, turvo e constante,
Um cansaço de ossos que antecede a aurora,
Um suspiro eterno que a vida devora.
É o peso da ausência onde o sonho existia,
A certeza nua de que a chama se extinguia
Sem labareda, sem fulgor, sem paixão,
Só um leve tremor no vão coração.

O existir tornou-se um fardo sem glória,
Uma marcha no lodo de uma velha história
Que se repete, eco mudo, sem sentido,
Sob o relógio frio, incessante, vencido.
As flores murcharam no jardim do desejo,
Só restam espinhos de um falso cortejo;
E o Amor, esse pássaro de asas douradas,
Jaz engaiolado em grades douradas.

Oh! Que resta ao espírito que ainda anseia voar?
Apenas vigiar a névoa a se espessar,
Sentir o tédio profundo, esse veneno sutil,
Que corrói a vontade, estátua em perfil.
Mas mesmo na lama, no torpor sem fim,
Uma centelha teima, fugaz e sem jardim:
É o eco de um verso no ar,
Um soluço no silêncio, um lutar sem lutar...
Pois até na ruína, na noite mais funda,
A alma humana, cansada, ainda se confunda
Entre o peso do nada e um grito contido –
Único sinal de que não está vencido.

#dorexistencial #distopiasilenciosa #cansaçoexistencial #internadosemnósmesmos

By Santidarko 






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