Crepúsculo de Chumbo(*um poema noir)
A Lua, cadáver pálido suspenso no alcatrão,
Vaza seu leite frio sobre telhados retorcidos.
A Névoa, um vulto que das docas sangra um vão,
Engole ruas onde o Medo fora tecido.
Sob o arco-bote que geme um rumor profundo,
Das águas negras (Lete de betume e sal),
Emergem sussurros – promessas do Mundo,
Que o lodo devora, traiçoeiro e fatal.
Ela veio com olhos de tempestade serena,
Cabelos – noite líquida a escorrer.
Prometeu um refúgio, doce e nova pena...
...Fora o punhal de gelo ao me trazer.
Minha alma? Um lago congelado, vasto e liso,
Onde um fantasma dança, solitário e nu.
A Verdade que busquei com árduo siso,
Era um abismo mudo, sem céu, sem terra.
Os sinos dobram notas de chumbo gasto,
Pelo sonho que afundou, sem lápide ou perdão.
O Vento, harpista cego, entoa um canto vasto,
Sobre ossos que jazem sob essa solidão.
O que resta? Sombras que se alongam, tortas,
O eco de um riso na esquina a apodrecer.
O futuro? Um ocidente de cinzas mortas,
E o luar – este sudário a entorpecer.
... E a Névoa sobe, devagar, infinita,
Envolvendo o porto, o crime, o pranto mudo.
Enquanto a Alma, errante e maldita,
Desce as escadas do Tempo...
...tudo escuro.
#poemanoir
By Santidarko
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